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a experiência humana só terá sentido se algo para lá do humano vier em nossa ajuda, em nosso socorro. o nosso drama é que a única coisa que desse género ou natureza parece poder vir é a morte, a nossa própria morte.

30 de dezembro de 2008

Amei aquele novo dia

Demoro muito tempo a morrer.
A minha inércia devagar.
As mãos.
As minhas mãos devagar demoram muito tempo
nesta inércia.
Morre-se devagar. Primeiro as mãos.
As mãos para a frente.
As mãos para a frente, o grito atrás, diante.
A minha indiferença é a minha morte e
não é outra coisa
senão o modo como vivo.
Mais um ataque em Gaza.
No Afeganistão.
Naquele jovem americano que se suicidou com um tiro de pistola russa
que herdara de seu pai
e que só ontem foi chorado em Portugal,
numa pequena sala de Lisboa,
na parte velha.
Eu estava lá, entre o grito, o choro. Não estava em Gaza.
Nem no Afeganistão.
Nem em lado nenhum.
Demoro muito tempo a aperceber-me que não é bem vida,
esta morte.
Ponho as mãos para diante.
Como se fosse um jogo de trava-trava.
As minhas mãos enxutas levantadas ao céu.
Amei aquele nascer do dia.
Lembro-me da boca aberta.
Não era espanto. Não era admiração.
Era fome.
O primeiro broche da minha vida morta,
da minha morte viva.


Amei aquele nascer do dia, aquele novo dia.

2 comentários:

  1. amigo JPN,
    gosto muito desta tua arte
    forte abraço
    e até para o ano

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  2. gosto muito desta tua arte, como dizer melhor?

    bom ano, jpn.

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