tento organizar-me por palavras. não me é fácil. fico à espera. hão-de vir. as palavras são ressoadores do que em mim vibra. a miséria da escrita é que ela tem sempre de ser dádiva. e não me é fácil abrir-me à dádiva quanto todo eu estou deficitário de fé, de confiança e até, de boaventura.
não posso ficar à espera que tudo isto venha. movo-me em direcção ao meu vazio, preencho-o com gestos grávidos de imagens, é assim que o possível hoje me atravessa.
há uma febre no coração do mundo. uma guerra. tenho horror ao sacríficio de inocentes. sinto-me um pequeno burguês atolado em palavras. eu não consigo ir onde o meu irmão sofre. eu nem consigo reconhecer o meu irmão, quanto mais o seu sofrimento. tudo isto é de menos. é politica esvaziada de dignidade. é acto de sobrevivência.
não consigo dizê-lo: o terrorismo é uma invenção cuja finalidade é silenciar a violência urbana. O terrorismo é uma ficção política invizível. a circunscrição do terrorismo é o primeiro acto terrorista. não consigo dizê-lo, estou a pensá-lo e a meio sustenho a frase, não sou capaz de concluir. o terrorismo militariza a vida quotidiana.
e nem sei porque falo de terror, de terrorismo; talvez por causa da minha condição de homem acossado. é enquanto homem acusado que estremeço, que perco o sentido, os sentidos. caio mo meio da praça.
a minha fúria é esta: hei-de arrancar algum significado a esta escrita com que arranho a folha de papel electrónica onde escrevo. hei-de compreender o que está para além disto, das palavras, das letras, dos fonemas articulados com pasmo, raiva, avermelhando o paladar.
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