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a experiência humana só terá sentido se algo para lá do humano vier em nossa ajuda, em nosso socorro. o nosso drama é que a única coisa que desse género ou natureza parece poder vir é a morte, a nossa própria morte.

23 de junho de 2008

sou uma máquina e faço uma pausa

tenho talvez uns dezoito minutos antes de desaparecer. de certa forma, antes de morrer. todos os dias por esta hora, antes de me dirigir ao relógio de ponto, fecho os olhos e imagino que um certo eu que me acompanha todos os dias desaparece. penso na minha liberdade. está sol lá fora, luz. gosto do céu azul assim. e agora o telefone. faço pausa. sou uma máquina e faço pausa. desisti de me pensar. ou melhor desisti de convocar o pensamento quando quero pensar. chamo a pele. eu pensava que estava a morrer, porque não estava a conseguir pensar mais. faltavam-me os pensamentos, as informações, as memórias. faltava-me tudo. pensava, faltava-me tudo. e não, tinha era coisas a mais, coisas a mais a atascarem o corredor da memória. o que caducou em mim foi uma certa forma de pensar. é por isso que eu hoje já não consigo dizer com expontaneidade, penso, acho, na minha opinião, cá para mim, tudo isso são expressões de um pensar em desuso. agora penso com o medo. com a inquietação. com o estremecimento. são coisas físicas o medo, a inquietação e o estremecimento. podem não o ser, eu sei. mas são quando me acontecem. é o lado físico que me acorda, que me faz pensar. a minha pele é a mesma de há quarenta e seis anos. isto para mim é um mistério da razão. o mundo assiste-se de razões insólitas: o sexo verde de um homem, a sua tesão diante do sexo vermelho de uma mulher, da sua tesão. tudo isto que acontece antes da linguagem. é verão, por assim dizer, é verão na minha pele.

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