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a experiência humana só terá sentido se algo para lá do humano vier em nossa ajuda, em nosso socorro. o nosso drama é que a única coisa que desse género ou natureza parece poder vir é a morte, a nossa própria morte.

15 de setembro de 2005

Homem-museu

Tenho medo de me esquecer. De me falharem as coisas. De criar lapsos, espaços em branco, fendas, entre as ideias, os pensamentos. O próprio acto de pensar. Porque não me consigo imaginar a esquecer sem que isso seja uma dor exacta, a dor do esquecimento. Já todos escreveram sobre a memória. Sobre o esquecimento.

O texto arranha a folha, ouve-se o silvar do papel. Falar do esquecimento é importante. Em contramão ao labor sobre a memória, muitos de nós esquecem-se. E depois fico com a sensação que trabalhamos a memória não para nos lembrarmos, sim para nos esquecermos. Para construirmos caminhos direitos em relação ao passado, veredas que nos protejam de uma possível irrupção violenta da memória sobre a nossa vida. Para que o que vivemos não nos caia em cima.

Talvez tão assustador como o homem que perdeu a memória seja o homem que se lembrava de tudo. Temos medo disso.

2 comentários:

  1. sim. o medo de perder a memória das coisas. a noção das coisas. de deixar de conseguir ver a linha divisória.

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