Tenho medo de me esquecer. De me falharem as coisas. De criar lapsos, espaços em branco, fendas, entre as ideias, os pensamentos. O próprio acto de pensar. Porque não me consigo imaginar a esquecer sem que isso seja uma dor exacta, a dor do esquecimento. Já todos escreveram sobre a memória. Sobre o esquecimento.
O texto arranha a folha, ouve-se o silvar do papel. Falar do esquecimento é importante. Em contramão ao labor sobre a memória, muitos de nós esquecem-se. E depois fico com a sensação que trabalhamos a memória não para nos lembrarmos, sim para nos esquecermos. Para construirmos caminhos direitos em relação ao passado, veredas que nos protejam de uma possível irrupção violenta da memória sobre a nossa vida. Para que o que vivemos não nos caia em cima.
Talvez tão assustador como o homem que perdeu a memória seja o homem que se lembrava de tudo. Temos medo disso.
15 de setembro de 2005
Homem-museu
Publicada por JPN à(s) 2:57 da manhã
Etiquetas: Enquanto o poema não me acontece
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Temos medo sim sr.
ResponderEliminarsim. o medo de perder a memória das coisas. a noção das coisas. de deixar de conseguir ver a linha divisória.
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